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Mais de 200 pessoas se encontraram para jogar o famoso game de ação. O campeonato principal teve 16 horas de duração e a rede elétrica quase pifou quando todos os micros foram ligados
Durante este feriadão, mais de 200 jovens de todo o País deixaram a praia e os passeios de lado para se reunir num antigo galpão da Philips, em Guarulhos, com um único objetivo: matar, matar e matar.
A ‘chacina’ pôde ser vista nas telas dos 227 computadores conectados em rede, durante a terceira edição do campeonato brasileiro Quakenet, onde as tribos aficionadas pelas várias versões do popular jogo Quake (e de outros jogos também) se enfrentaram.
Para os que ainda não sabem, Quake é um jogo em primeira pessoa, no estilo mate-ou-morra, e ficou bastante conhecido por ser um dos primeiros a permitir combates pela Internet. O evento teve a participação dos principais clãs (times) de Quake do Brasil, como Invisibles, Kaipiras, SBC e Revolution.
As disputas foram entre as categorias Team Fortress – onde o objetivo dos times é capturar a bandeira do adversário –, Death Match (mate todo mundo) entre clãs e Death Match simples.
Nos dois salões ocupados pelos jogadores (predominantemente jovens) que participaram do Quakenet, restos de pizza e latas de refrigerantes vazias eram provas do estrago que duas centenas de gamemaníacos podem fazer quando se reúnem.
Para enfrentar a maratona de jogos – o campeonato principal, de Team Fortress, teve cerca de 16 horas de duração – boa parte dos presentes dormiu em colchonetes ou sacos de dormir, mas o chão acarpetado também foi uma alternativa bastante considerada.
A maioria dos participantes se conheceu pela Internet. Enquanto os campeonatos não começavam, a rede ficava à disposição e jogava-se de tudo um pouco: Fifa, Half Life, Starcraft.
O clã Revolution venceu na categoria Team Fortress, que acabou às 2h30 de segunda-feira. “Jogamos sete horas seguidas”, disse, orgulhoso, Frederico Figo, um dos integrante do time, que veio de Campinas para o Quakenet. Franklin Bowers, do mesmo time, veio de Uberaba (MG) e ficou rouco orientando as jogadas dos companheiros.
A não ser pela rede elétrica, que quase entrou em pane quando todos os micros foram ligados ao mesmo tempo, o Quakenet não teve maiores problemas. “Veio tanta gente que a energia não aguentou”, brincou Arley Lambert, um dos organizadores do evento.
-Pedro Marques
https://web.archive.org/web/20010224022219/http://www.jt.estadao.com.br/noticias/99/09/09/if2.htm
Investigamos os porões da Quakenet III
September 08th, 1999 — Sao Paulo, Brazil
De: Agente Maxwell Smart
Para: Cel. Joseph McCarthy
Ref: Operação Frog
Ilmo. Coronel:
O relatório que aqui segue é a tradução fiel daquilo que este agente viu, ouviu e apurou, durante o encontro da extremista seita de jogadores de Quake, vulgo Quakenet III, realizado na cidade de Guarulhos, do dia 04 à 07/09, no estado de Sao Paulo, Brazil.
1.1 — Invadindo a Base
De acordo com as informações da Inteligência, tecnicamente a Quakenet é uma “LAN Party”, ou seja, um encontro secreto onde centenas de seguidores deste jogo levam cada um seu computador debaixo do braço, e os interligam numa grande rede. A partir daí, todos eles se dedicam a intermináveis sessões de Quake, por dias e noites seguidos, até que cheguem à um deplorável estado físico e mental, num grande êxtase coletivo.
O ponto de encontro da Quakenet III foi escolhido a dedo para não despertar a atenção. O evento se realizou num antigo complexo da Philips, ao lado da Via Dutra, em frente a um pacato Shopping Center cheio de pessoas inocentes.
1.2 — Mecanismos de Controle Mental
Ao adentrar no complexo, nenhum vigia. Mas bastaram alguns passos para encontrar uma sala infestada por estes elementos. Foi a visão do inferno, senhor. Uma sala com pelo menos 30 metros quadrados, com todas as janelas fechadas, sem luz natural, e tomada por uma intrincada rede com centenas de computadores interligados. No chão, latas e latas de Coca-Cola, restos de pizzas, esfihas e outros objetos orgânicos não decifráveis. Pelas cadeiras, uma cueca e uma meia.
E lá, naquele ambiente abafado, foi que vi centenas de formas humanas agonizantes. Jaziam estirados, como que sugados até o última gota de sangue. Neste verdadeiro mar de corpos, malas de viagem e colchonetes, ouvia-se lá e cá algum gemido, como se a orgia diabólica da madrugada anterior tivesse deixado um ou outro sobrevivente. Pelas informações recolhidas, aquelas almas estavam caminhando para o terceiro dia de um desvairado ritual coletivo.
Aos poucos, uns e outros saiam do torpor. Após buscarem qualquer alimento para saciarem as necessidades básicas, vários destes elementos se encaminhavam cambaleantes para suas máquinas, e voltavam a assumir seus postos. A maioria jogando Quake, embora alguns outros se dedicassem a novas formas de vício, como Half-Life.
O mais impressionante, porém, foi sua rápida capacidade de mobilização. Aos poucos, alertados pelos ruídos de explosões e corpos se despedaçando, os outros acólitos despertaram, e em menos de uma hora, novamente formavam a Grande Rede. Vale lembrar que a maioria destes jovens seguidores é formada por jovens de 15 até 25 anos de idade, ou seja, pobres garotos acéfalos, fáceis de serem recrutados e manipulados. Ao total, estimou-se o encontro em mais de 300 participantes – num total de 227 computadores interligados, o que demonstra ser este o maior evento deste gênero em toda a América Latina.
1.3 — Modalidades de Lavagem Cerebral:
Mas havia ainda mais neste formigueiro humano. No lado oposto do complexo, uma outra sala abrigava outra rede similar à do primeiro aposento. O ambiente permanecia abafado, numa penumbra propositalmente mantida. Lá, outras células treinavam confrontos de Quake num transe hipnótico. Completamente alterados, alguns elaboravam estratégias de combate aos berros. Outros, por sua vez, mantinham-se num mutismo psicótico, com a face contorcida pela tensão.
“Eu me preparei para este evento uma semana antes” comentou Pendragon, um aventureiro sem clã, que participou de sua primeira Quakenet. “Só comia uma vez por dia, e ficava acordado até o limite da exaustão”. Perguntado sobre o porquê de jogar Quake, Pendragon resumiu da seguinte maneira. “Eu canalizo minha frustração de ser um guerreiro. Aqui, rola uma coisa de honra. O cara vale pelo que ele é”.
Alguns líderes ainda realizavam – num gesto extremado de crueldade – várias formas de campeonato, onde a massa se degladiava, aumentando o frenesi dos demais.
Identificamos algumas modalidades que foram disputadas de maneira oficial. A primeira é a Team Fortress (times de oito contra oito, em que os jogadores encarnam oito diferentes classes de combatentes, como Engenheiros, Franco-Atiradores, Espiões, Batedores, etc.), com vitória do clã RV (Revolution). Os vencedores mantiveram seus nomes em código, impossibilitando decodificação: Tsunami, Smog, Fear, Orgg, Kaneda, Evil Brain, Digo, Roller, Hipertech e Flipper (revezando entre si).
A segunda modalidade foi a Death Match 4 x 4 (times de quatro contra quatro), onde a vitória coube ao clã LOW. Os elementos também utilizaram nomes de guerra: Kobain, Sith, Simps e Rambo. Já no mano a mano, no clássico confronto individual, mais conhecido como Death Match 1 x 1, o vencedor foi Sonny, do clã RAGE. Na categoria Sniper 1 x 1, quem triunfou foi Aerosmith, e numa modalidade nova e ultra-secreta, Quake 3, o campeão foi Kafer, do clã Syndicate.
1.4 — Divisões Hierárquicas
Vale mencionar que a divisão hierárquica é escalonada de modo que não haja uma grande cabeça liderando o movimento. Há, outrossim, uma infinidade de clãs que se fundem, se separam, nascem e se extinguem num curto período de tempo. Estas unidades contém em média 8 a 10 integrantes, e provavelmente agem desta maneira para fugir de nossa espionagem. Seus nomes também são encriptados: Invisibles, Kaipiras, SBC, Revolution, Full/DKS, Legend Clã, Clãonalhas.
Os ditos “clãs” também cultivam relações de amizade e até de rivalidade entre eles. Nesta Quakenet, por exemplo, o clã RV (Revolution) derrotou todos os seus oponentes na categoria TF. Ainda assim, Tsunami, um integrante deste clã, não perdeu a chance de atiçar um clã rival. “Foi muito bom termos vencido. Mas sentimos falta do The Dukes (campeão na edição anterior em cima do Revolution), pois queríamos derrotá-los numa revanche”.
É este mesmo Tsunami quem faz outra revelação bombástica. O uso de drogas estimulantes. Cita o elemento que, na partida final, um dos integrantes do seu grupo, conhecido como Kaneda, estava num tal grau de esgotamento que parecia prestes a desmaiar. Para recuperá-lo, e também aos demais membros do clã, foram oferecidas, repito, foram oferecidas balas de café!
1.5 — Demonstrações de Fanatismo
Ao que parece, o grau de fanatismo é comparável ao Hezbollah e outras organizações terroristas. Do Rio Grande do Sul, alguns membros do RST (RS Terminators) enfrentaram 20 horas de viagem até São Paulo. De Minas Gerais, os clãs RAGE, Clãnalhas, Syndicate e TR se uniram e fretaram um ônibus. Do Rio de Janeiro, o Full/DKS conseguiu uma van e ainda pagou a passagem de avião de um dos seus membros, o Carlos (não sabemos se trata-se de codinome ou nome verdadeiro), elemento de alta periculosidade, apontado como o melhor jogador de Quake do Brasil. De outras capitais, como Brasília, membros isolados também não hesitaram em transportar no avião seu computador, colocando em risco a vida de vários passageiros inocentes.
É este mesmo fanatismo que faz com que Gigio, um dos líderes da organização, tenha se oferecido em sacrifício. “A Quakenet é algo muito legal, mas muito estressante para quem está organizando. No fim, a gente mais ajuda o pessoal do que joga” comenta. “Muita gente não tem noção de como entrar na rede, e os problemas técnicos são os mais variados”. O elemento afirma – feliz – que, durante os quatro dias do evento, dormiu apenas um total de dez horas.
1.6 — Depoimento de familiares
Muitos pais tentam disciplinar estes rebeldes, através das mais variadas sanções. “Normalmente meus pais deixam que eu venha. Mas depois, eu tenho que passar uma semana longe do computador” admitiu Zig, 17 anos, que veio do Rio de Janeiro numa van alugada.
Outros familiares, entretanto, já sofreram uma sutil dominação, e estão completamente à mercê dos seus próprios filhos. Acompanhe o depoimento de Eunice Lareato, mãe do já citado Gigio:
“Toda vez que meu filho saia com um computador na mochila para ir para uma LAN Party, eu ficava muito preocupada de saber que ele ia ficar em algum lugar por três dias com pessoas desconhecidas. Até que eu resolvi fazer parte do último evento para conhecer o funcionamento.
Montei uma mini-lanchonete no local com alguns amigos e fiquei quatro dias em contato com os participantes. Verifiquei que o evento é muito saudável. Pessoas de todos os estados, jogando, trocando idéias e aprendendo coisas uns com os outros.
Rapazes e senhores muito educados de todas as idades. Um respeito muito grande não só entre eles como também com as máquinas e pertences no local. Era proibido vender bebidas e cigarros e evidentemente não rolou nenhum tipo de drogas, o que me deixa a vontade para dizer aos pais: não fiquem tão preocupados quando seus filhos participarem do próximo evento e, se puderem, façam como eu e vão lá conhecer! E quem sabe, até participar!” (Repare no grau de lavagem cerebral, sir.)
1.7 — Finalidade da Organização
Em suma, quais os objetivos desta horda de fanáticos? O brasiliense Korn, 18 anos, confessou: “Na Quakenet, nós podemos conhecer as pessoas com quem jogamos todo dia pela rede. O mais engraçado, é que a gente acha que a pessoa é de um jeito, e quando vê na frente, é completamente diferente”.
Outros, como Pendragon, encaram esta reunião como uma oportunidade de comunhão com algo que ainda permanece puro. “O melhor é conhecer o pessoal num evento que a gente sabe que está limpo, que não está podre, corrompido pelo dinheiro. Isto é feito por quem gosta para quem gosta“, delirou. (Como pode ver, sir, este subversivo elemento certamente apresenta extrema periculosidade aos ideais da Nação).
Há outros ainda que gostam destas grandes redes por um fato simples. Ela maximiza o vício. “O bom destes encontros é que não tem problemas de conexão. Dá para jogarmos sem interferências, e também sem que ninguém roube” avaliou Zig, 17 anos, do clã Full/DKS.
Em suma, coronel, a finalidade desta seita é promover encontros entre os membros desta organização, visando a diversão coletiva e delirante de seus membros. Ou seja, algo no mínimo suspeito. Afinal, não é possível que todas estas horas de treinamento em batalhas virtuais se restrinjam a uma simples e inocente diversão. Há alguma coisa por trás disto. Eu particularmente apontaria: tendências homicidas reprimidas; traumas psicológicos contra a figura do pai redirecionados para a sociedade; latências de infantilismo deslocadas para atividades comunistas.
Como medida repressiva, sugiro o acionamento de todos os canais competentes para alertar o governo deste país do terrível perigo que cresce à sua sombra. Caso falhe esta medida, sugiro intervenção imediata com o desembarque de mariners e maciço apoio da Frota do Atlântico Sul.
Cordialmente; Agente Maxwell Smart.
https://web.archive.org/web/20000302173554/http://www.zaz.com.br/games/noticias/maxwell.htm
Quake 3 em grande estilo na Rawskills, by Guilherme Magalhães
Marmanjos se esgoelando em frente a seus computadores, jogando Quake 3: Arena em uma enorme sala, controlando seus personagens com armas aniquilantes? Sim, é a Rawskills, evento organizado pela mesma equipe que coordena a QuakeNet – a maior rede de Quake realizada periodicamente no Brasil e na América Latina – e sediado na PlayNet, a maior casa de jogos para PC do Estado de São Paulo.
A Rawskills será uma competição individual, ou seja, 1X1, em rede local de Quake 3: Arena, onde os participantes se trucidarão em eliminatórias simples (melhor de três partidas em cada eliminatória), até chegar ao grande campeão. Um evento com esse nível de profissionalismo nunca foi visto no país e como ele é baseado nos grandes eventos internacionais do tipo, espera-se ótimos resultados.
A Super11 estará patrocinando o evento, juntamente com a Samsung, a Microsoft, a Elpha Informática e a PlayNet. Segundo José “rorshack” Fernando, um dos inúmeros organizadores do evento, “o fato de ter grandes empresas por trás da Rawskills, ajuda a perceber a seriedade doe evento”. E a recompensa é de dar água na boca. Medalhas e troféus inauguram a “listinha”. Para delírio geral, a premiação continua: o primeiro colocado receberá um Micro Pentium III 550mhz 256mb montado pela Elpha Informática, um Monitor Samsung 17″ Dynaflat 700IFT, um mouse Microsoft Intellimouse, além de três meses de entrada gratuita na PlayNet. O segundo e terceiro lugares ganharão o mouse e os três meses de jogatina.
E o bom é que atá quem não é viciado na matança eletrônica, não tendo muitas chances de vencer, poderá concorrer a outro Monitor Samsung 17″ Dynaflat 700IFT que será sorteado entre a galera. Imagine só, você vai se divertir, quem sabe vencer algumas batalhas e ainda pode sair no lucro!
Se você não consegue mais se segurar na cadeira e quer participar do evento, pode se inscrever através do site oficial da Rawskills. Só que as inscrições feitas ainda hoje pela Internet, custam apenas R$ 15 em depósito e se for feita na hora (se ainda houver vagas) custará R$ 20. Qualquer dúvida a respeito do evento pode ser esclarecida através do e-mail rorshack@quakenet.com.br. Não conseguindo participar, você pode conferir as demos das disputas, que são espécies vídeos onde é mostrado o confronto, na página da Qnews. Porém, com um acontecimento desses rosnando na sua frente, nem pense em perder a chance de descarregar sua ira em Rawskills.